terça-feira, março 21, 2006

A cor cinza

Mais uma manhã cinzenta... O primeiro dia da Primavera e não se vê uma flor... as árvores continuam despidas, a relva ainda queimada do frio. Também os prédio são cinzentos, não encontro aqui a profusão de cores da nossa Lisboa nem sequer a alegria do vermelho e dourado dos templos budistas... tudo me parece meio dormente, meio morto...

Na Universidade de Wu Han encontro o dormitório para estudantes estrangeiros mas ninguém está muito interessado em conversar... Tenho a sensação de que estou numa dimensão alternativa, silenciosa, só...

Caminho durante horas pelas largas avenidas à procura de algo que me devolva algum significado, algum objectivo a este caminho... Sinto-me perdida no meio da China, no meio do Mundo, no meio da Vida.

É emersa neste estado de alma cinzento e um pouco triste que inesperadamente volto a ver a luz e me apercebo que à coincidencias que não o são, há momentos em que basta abrir o coração, estar atento e a vida encarrega-se de nos dar algo mais, mais uma peça do puzzle.

No único canal internacional que tenho no quarto (TV5 Monde) vejo uma pequena reportagem sobre Jean Claude Guillbaud. Fico de lágrimas nos olhos, paralisada a olhar o ecrán, tal é a sensação de “encontrei o que estava à procura”.

No seu livro “La Force de Conviction”, Guillebaud integra toda a sua experiência de jornalista de guerra, viajante e editor de um jornal heterógeno onde escreviam desde antropólogos a matemáticos, e conclui que “Acreditar é escolher” e que “Acredita no Universo, sem dogmas”.

Sem nos dar-mos conta, todos escolhemos em que acreditar: na economia, na familia, em Deus, em nós mesmos... Em cada cultura que visitei cada uma destas crenças têm mais ou menos força, o equilibrio entre todas torna cada cultura única, mas a base é sempre a mesma. E aquilo em que acreditamos define a nossa vida, as nossas prioridades.

Por vezes não sei bem em que acredito... será em dinheiro, trabalho? Em espiritualidade, saúde? Nos amigos, na familia? Quais são as minhas prioridades? Como me defino? Em que escolho acreditar?

Procuro nas estradas do mundo estas respostas, porque um dia um amigo disse-me que só quando caminhamos pelas estradas do mundo começamos a caminhar dentro do nosso coraçao.

Escrevo este texto já em Portugal, baseado no meu diário, mas com acontecimentos e escolhas em mente que não posso esquecer. Continuo sem respostas finais, acho que acredito na mudança constante. E entretanto, já encomendei o livro, mais uma luz para o meu caminho.