Ser turista em Lisboa
Essa instituição lisboeta que visitei...duas vezes. Poderei atrever-me a auto-intitular-me alfacinha depois de dizer uma coisa destas? Ou serei uma verdadeira lisboeta exactamente por isso, porque pouco ou nunca visito estes ex-libris?
Um verdadeiro lisboeta é aquele que nunca foi turista em Lisboa!
Ao lado do café Nicola há um jornaleiro. Uma loja estreita, como um corredor, com um homem sério atrás do balcão, daqueles que não responde ao “bom dia” mais sorridente. A estreiteza, as paredes e tectos de madeira, o cheiro a papel, são típicos destes jornaleiros portugueses metidos em vãos de escada, mas a toda a volta só vejo títulos como Veja, Deir Spiegel, El País, The Economist. Já sei onde vir comprar imprensa estrangeira. Hoje compramos o SOL e o Expresso e decidimos seguir.
À entrada da rua dos Sapateiros, junto ao arco, três indianos conversam. Um deles usa um turbante sik. Que saudades da Índia...
Dois metros adiante, uma entrada Arte Nouveau que foi o primeiro cinematógrafo de Lisboa dá agora acesso a um Peep-Show. Que pena... pelo menos não estragaram a fachada. ;)
Continuamos, uma leitaria já bastante descaracterizada com as sua novas mesas de plástico, um restaurante com ar bastante fétido, uma loja de electrodomésticos e ouço “que tentação!”. Não devo ter ouvido bem. “Desculpa?!” “Sim eu sei, estou uma dona de casa perdida e sonho com frigorificos e fornos que funcionem...” “Meu Deus! A minha amiga enlouqueceu!”
Pequeno-almoço MegaVegan e procuramos a entrada ao mundo subterrâneo da baixa pombalina e seus vestígios romanos. Será em frente ao nº75. Estranho não haver ninguém na rua, um evento destes deveria atrair uma multidão mas não digo nada. Nº 75, não há nada aqui... Que parvoíces é em frente ao nº75 da Rua da Conceição! Seguimos.
E então, a multidão! Uma fila interminável dá a volta ao quarteirão inteiro. Esperava muita gente mas isto é uma loucura! Não é preciso muito para concluir que umas 3 horas de espera é o mínimo que temos pela frente e isso simplesmente não vale a pena. Mudança de planos, vamos passear por cima de terra!
Já que temos os jornais para ler e está um dia lindo dirigimo-nos à esplanada do Museu do Chiado. É um sítio especial, com espaço, tranquilidade, um pátio que nos acolhe e protege da cidade. Pátios, milenar invenção árabe. É um bom sonho sonhar com um pátio.
Apanhamos o 28 para a Graça e do seu miradouro observamos a cidade, o rio, o castelo, as amoreiras, o centro comercial do Martim Moniz, a ponte e o convento do Carmo. A mistura entre o velho e o novo assim, debaixo do nosso nariz.
Seguimos pela encosta abaixo e vamo-nos perdendo pelas ruelas que apenas visito nos santos populares quando o fumo das sardinhas e febras na brasa e as multidões de foliões impedem ver estes cantos e recantos tão especiais.
Direita ou esquerda? Vamos andando, andando. Cruzamo-nos com outros turistas e outros lisboetas nestes pátios onde imagino não há privacidade mas se vive ainda como se numa aldeia, no centro da capital.
No fim do nosso passeio sinto-me mais lisboeta e mais portuguesa, depois de um dia de turismo na minha cidade.