quarta-feira, abril 19, 2006

São Francisco

Ao aterrar em São Francisco tenho por momentos uma sensação esquizofrénica de não saber onde estou. O que vejo é ocidental, falo inglês e sou entendida, mas só vejo asiáticos e há indicações em chinês por todo o lado! Depressa percebo que, como muitas cidades norte-americanas, SF foi formada por uma miríade de comunidades emigrantes que chegaram aqui à procura de uma vida melhor. Chineses, Hispanicos, Negros, Italianos, Irlandeses. Há de tudo um pouco.

Vista das traseiras da Pousada da Juventude de Fisherman's Wharf, onde fiquei


Construida sobre colinas à beira da água, com a ponte Golden Gate (igual à Ponte sobre o Tejo) a presidir muitas das melhores vistas, há quem diga que São Francisco é muito parecida com Lisboa. De facto sinto-me em casa a passear à beira da baia, pelos relvados cuidados e jardins floridos. Sinta falta da cor, da luz, da pureza do ar maritimo.


A minha preguicite turistica continua e não tenho vontade nenhuma de ir a Alcatraz, nem de andar sobre a Golden Gate Bridge, nem mesmo de me meter num dos famosos eléctricos que afinal só são usados por turistas mesmo. Passeio pela cidade e aproveito o sol e os relvados (não sei porquê em Pequim não se podia pisar a relva) para ler ao ar livre o Crime e Castigo de Dostoesvsky que encontrei na Pousada. À parte dos leões marinhos que ocuparam um bocado da marina e do SFMOMA deixei as atracções turisticas de S.Francisco para uma outra visita.

Estes leões marinhos selvagens invadiram o Embarcador 39 depois do sismo de 1989, são livres de entrar e sair. Chegam a estar aqui 500 animais. Neste dia havia cerca de 200. Parecem totalmente alheios às centenas de turistas que os observam todos os dias.


Estes 5 dias foram dedicados a outros pequenos prazeres: falar e ser entendida pelos locais, fazer a minha própria comida, respirar fundo sem ficar intoxicada pela poluição, perder-me na multidão anónima onde não sobresaio por ser ocidental, beber coca-colas cheias de gelo, olhar as montras modernas e as roupas da ultima moda dos transiuntes cheias de cor e com aspecto novo em folha, ver espectaculos gratuitos pela rua...

A rua mais torta do mundo!

"Cable cars"

Uma das melhores coisas de voltar ao ocidente são os supermercados. A variedade de yogurtes, bolachas, pão, queijo! Azeite! Azeitonas! A apresentação dos productos frescos, frutas e saladas. Sou feliz a fazer sandwiches em pão integral com azeitonas verdes, queijo emmental e alface iceberg na cozinha da Pousada da Juventude. :)



Apenas uma coisa me chocou: o olhar sem esperança, a loucura e agressividade que senti dos muitos (muito mais do que alguma vez poderia imaginar que haveria) mendigos que vi. Dormem em cantos e bancos de jardim, andam bêbados pela rua, com roupas nogentas, carregam o cheiro de quem não toma banho à semanas senão meses, o espirito quebrado, a vida sem sentido. Não se enquadram na sociedade e na sua loucura viram-lhe as costas, sem se darem conta da sorte que têm de ter nascido no mundo ocidental. Nestes 7 meses na Ásia, em especial na India, vi pessoas que vivem nas condições mais humildes com um sorriso sempre radioso. Vi a pobreza mais completa, de onde não se escapa nunca e ainda assim, sorriam. Não posso, nem quero, fazer um discurso paternalista de como no ocidente temos todas as oportunidades e não as aproveitamos, e não as agradecemos, nem nos damos conta. Mas entristeceu-me verdadeiramente sentir a desesperança, o vazio, em que estes homens e mulheres abandonados pareciam viver.

domingo, abril 16, 2006

Boa Pascoa!

quinta-feira, abril 13, 2006

O pior jet lag da minha vida!

Sabiam que ao atravessar o oceano pacifico andamos para trás no tempo? Pois é! Eu explico: como vamos em direção oposta ao sentido de rotação da terra e cruzamos a linha internacional do tempo por isso chegamos ao nosso destinos antes do tempo, quer dizer, antes da hora onde estavamos, é tipo um atalho, andamos mais depressa do que o dia.

Exemplo práctico: sai de Pequim na 5ª feira às 12h da tarde. Passei 10 horas no avião. E cheguei a S.Francisco às 8h da manhã da mesma 5ª feira dia 13 de Abril. Isto é vivi o mesmo dia duas vezes! Quer dizer, mais ou menos já que às 16h estava com uma pedrada que já não andava direito e não houve café (muito menos a porcaria do café americano) nem passeios ao sol que me mantivessem acordada...

E assim começaram 4 dias de horários trocados... acordar às 6 da manhã, dormir à tarde e dar voltas na cama à noite... Só me passou com uma noite de copos que me fez dormir até mais tarde no domingo! Quem disse que sair à noite é uma actividade inútil?

terça-feira, abril 11, 2006

Os jardins chineses são o máximo porque...

Podemos ler o jornal na parede...




Aprender a dançar o tango.

Fazer Tai'chi sozinho...

... ou em grupo, com...

... ou sem espada.




Ou até dançar com fitas às cores ao som de música tradicional.



Isto e muito mais pode encontrar-se num jardim chinês a qualquer hora do dia!

A experiência cultural por excelência!

segunda-feira, abril 10, 2006

A Muralha

Visitar a Grande Muralha da China era algo que, embora me apetecesse muito, me preocupava. Não me apetecia nada um dia cheio de lojas de souvenirs, grupos barulhentos de chineses, japoneses e americanos reformados, de cabelos grisalhos, vestidos no seu rigor turistico com a mochila a condizer com a “pochette”. Os casalinhos com ténis e blusões iguais, máquina fotografica numa mão e begala de passeio na outra. Os vendedores de gelados, de bebidas, de roupa. Os taxistas chatos, autocarros cheios, 50 paragens em lojas todas iguais e bares infecciosos dos amigos do condutor do autocarro... enfim... a experiencia turistica low-budget na Ásia pode chegar a ser muito frustante.



A Pousada onde estou, em Nan Luo Gu Xiang – para mim uma das ruas mais cool de Pequim – organiza umas vezes por semana transporte para uma das zonas menos visitadas da muralha JinShanLing. Daí são 10 km até Simatai onde nos vão buscar para nos devolver à cidade. Asseguram-me que não há paragens em lojas, nem custos escondidos. Agrada-me a ideia de passar um dia a caminhar sobre 2.000 anos de história e inscrevi-me.

Mais do que uma linha de defesa impenetrável, a verdadeira função da muralha foi durante séculos a de uma via de comunicação utilizada no transporte de pessoas e bens por terreno montanhoso. E por montes e vales, subidas ingremes e troços de muralha quase desfeita, de torre em torre, caminho sobre as mesmas pedras que desde o inicio da história da China soldados, camponeses, ladrões, monges e sábios pisavam nas suas viagens pelo Império do Meio.


Pude aperceber-me do imenso esforço humano que foi necessário para construir esta incrivel muralha – dizem que um dos materiais de construção utilizados foram os ossos dos trabalhadores que aqui morriam, talvez os seus fantasmas ainda aqui vivam...

sexta-feira, abril 07, 2006

Pequim

Cheguei a Pequim já bastante cansada de ser turista... desde 20 de Fevereiro quase sem parar, desde o sul do Vietname até ao Norte da China, de Templo em Templo, montanha em montanha, autocarro em autocarro...



Decido ser preguiçosa, dedicar os meus dias a encontrar cafézinhos e restaurantes com cadeiras confortaveis para ler, ver o mundo passar, escrever e dedicar o meu tempo a não fazer nada.

Na verdade escolhi uma boa cidade para fazer isto. Em Pequim não faltam sitios ocidentalizados ou não, onde apetece ficar, experimentar os diferentes chás e sobremesas, assistir a performances de arte contemporanea e não pensar demasido.



Pelos velhos bairros, os hutongs, perdi-me vezes sem conta, a andar sem objectivo definido pelas ruas estreitas e cheias de vida. Em vez de monumentos procurei uma ou outra galeria de arte, como a Red Gate Gallery localizada num imponente pedaço de muralha antiga. Em vez de grande museus visitei pequenas colecçoes como o Museu de Arte Poly que em duas salas concentra mais história antiga do que muitos dos supostos sitios de interesse por onde já passei.

Pequim fervilha de actividade, de movimento, de cultura, de crescimento. Sente-se no ar a prosperidade trazida pela capacidade de trabalho e persistencias chinesas e o poder económico das grandes empresas que cada vez mais apostam na Ásia.

Claro que há duas coisas incontornaveis A Cidade Proibida e a Muralha da China, mas com calma lá chegarei!

Praça Tiananmen ao fundo, a entrada para a Cidade Proibida

quinta-feira, abril 06, 2006

Um bilhete de pé?

Pois é, na China tudo é possivél incluindo comprar um bilhete para uma viagem de 6 horas sem ter lugar sentado! Eu bem que já tinha visto a confusào que se gerava nalgumas carruagens com a chegada do comboio mas ainda não tinha vivido o puxa e empurra, as malas sobre a cabeça, o rabinho sentado na pontinha do banco, a dança de agora sento-me aqui, ora ali, já ai sem o dono do lugar, muda para aqui... uma confusão!

Ao fim de uma hora, lá consegui um lugar do qual não me expulsaram até chegar a Pequim. Tive sorte, 6 horas de pé ou sentada em priquelitante equilibrio sobre a minha mochila não apetecia nada! ;)

quarta-feira, abril 05, 2006

Kaifeng

Há sitios que têm pouco interesse em todos os paises. Cidades industriais, suburbios residenciais, pequenas aldeias iguais a umas e outras, paisagens sem brilho, monumentos demasiado restaurados... Algumas das coisas que vi e sitios por onde passei foram pequenas desilusões, mas nenhuma tão grande como Kaifeng... O Lonely Planet descrevia-a como “thoroughly charming”, “travellers love the city”. Estava animadissima com a perspectiva de uma pequena e charmosa cidade, perto do rio, com um animado mercado e deliciosasesplanadas para ver o mundo passar. Não só não adorei a cidade como não encontrei nas cinzentas e sujas ruas charme nenhum...

Templos tão restaurados que pareciam novos e com bilhetes de entrada carissimos, nem uma indicação para encontrar os locais históricos e o mercado que deveria ser uma das maiores atracções era uma Feira de Carcavelos meets loja dos 300, igual a qualquer loja dos chineses que aparecem que nem cogumelos por todo o lado. Já percebi porque é que são assim as lojas deles, na China também cheira a borracha por todo o lado, há mil bujigangas empilhadas, todo o tipo de quiquilharia, roupa, sapatos, loiça de metal, pequenos brinquedos, etc, etc, etc. Qualidade nem vê-la mas a este preço...

Enfim, nem tudo é perfeito... perdi 2 dias nisto: chegar, ver e fugir!

terça-feira, abril 04, 2006

Exército de Terracota

Umas das coisas que mais curiosidade tinha para ver na China eram o Exército de Terracota descoberto no século passado por dois agricultores enquanto cavavam um poço, nos arredores da cidade de Xi’An.

O Exército de Terracota faz parte de um complexo universo que o primeiro Imperador da Dinastia Qin quis levar consigo na morte. Na China e em muitos outras culturas não só no Oriente, havia o costume antigo de enterrar os mortos com miniaturas em barro da sua familia e pertences que assim acompanhavam o morto na vida depois da morte. Mas o túmulo de um Imperador era especial!

Um exército de figuras de barro de tamanho real enterrado num túmulo gigantesco há mais de 2.000 anos! Cada soldado tem feições diferentes, pensasse que no inicio terá havido mais de 7.000 figuras! Existem soldados rasos, oficiais, generais, cavalos, armas em bronze. Muito ainda está por revelar já que as técnicas arqueológicas de hoje não permitem abrir outros túmulos que já foram encontrados.



Aquilo que já se vê é impressionante. A visita faz-se sob 3 imensas estructuras que cobrem as escavações principais. As diferenças de tamanho, forma, roupa e feições de cada soldado dão uma sensação de vida a todo o conjunto, parece que a qualquer momento vão começar a marchar.

Um dos pontos altos da minha viagem!

sábado, abril 01, 2006

Shaolin

Nas segundas montanhas santas Taoistas que visito na China encontro Shaolin. Meca de practicantes de Kung-Fu e seguidores do Bruce Lee, em Shaolin continuam a practicar-se diversas Artes Marciais. Mas as forças da modernidade chegaram a este antigo Templo e deparei-me com uma “Fábrica de Mestres”/atracção turistica.

Na Escola Tagou a organização tipo exército, o impressionante número de alunos (15.500!), cerca de 30 por instructor vs. o sistema tradicional chinês de uma aluno para cada Mestre, o elevado número de horas de treino fisico e estudo de disciplinas técnicas como matemática e inglês e a total entrega ao grupo apagam qualquer possibilidade de crescimento espiritual. Todos vestidos de casaco encarnado e calças pretas e divididos em grupos bem organizados estes alunos dão um novo sentido à frase “Exército Vermelho”.



Cheguei de manhã cedo com um novo companheiro de viagem conhecido no comboio, o irlandês Patrick. Não tivemos dificuldade em encontra a escola recomendada pelo Lonely Planet, instalada num edificio que poderia ser também um antigo hotel, é bem maior do que a escola em Wudang e as condições bem mais confortavéis.

Começamos as aulas de Tai’Chi nessa mesma tarde. Quero aprender a forma de 24 movimentos do estilo Yang. Não sei quanto tempo demorarei mas ajuda partilhar esta aprendizagem com um feveroso crente do Tai’chi que me emprestou livros e ajudou nos movimentos mais complicados.

Patrick e o Prof. Feijão

O nosso professor, Feijãozinho é a tradução literal do seu nome, é da velha escola, estudou 10 anos com um Mestre one-on-one. Com ele passamos 6 horas por dia. Quando está concentrado parece pertencer a um reino diferente, os seus movimentos transportam uma energia palpavél que emana dele e enche toda a sala deixando-nos em reverente silêncio. Mas os outros ocidentais e treinadores estão pouco interessados nesta poderosa Arte Marcial, aborrece-os a lentidão, preferem as acrobacias do Kung-Fu que aqui lhes ensinam... Em 4 dias aprendo a forma e deixamos Shaolin, com as pernas um pouco doridas, rumo a Xi’An e a outros Guerreiros mais antigos.



A espada foi só mesmo para a fotografia. :)