São Francisco
Vista das traseiras da Pousada da Juventude de Fisherman's Wharf, onde fiquei
Construida sobre colinas à beira da água, com a ponte Golden Gate (igual à Ponte sobre o Tejo) a presidir muitas das melhores vistas, há quem diga que São Francisco é muito parecida com Lisboa. De facto sinto-me em casa a passear à beira da baia, pelos relvados cuidados e jardins floridos. Sinta falta da cor, da luz, da pureza do ar maritimo.
A minha preguicite turistica continua e não tenho vontade nenhuma de ir a Alcatraz, nem de andar sobre a Golden Gate Bridge, nem mesmo de me meter num dos famosos eléctricos que afinal só são usados por turistas mesmo. Passeio pela cidade e aproveito o sol e os relvados (não sei porquê em Pequim não se podia pisar a relva) para ler ao ar livre o Crime e Castigo de Dostoesvsky que encontrei na Pousada. À parte dos leões marinhos que ocuparam um bocado da marina e do SFMOMA deixei as atracções turisticas de S.Francisco para uma outra visita.
Estes leões marinhos selvagens invadiram o Embarcador 39 depois do sismo de 1989, são livres de entrar e sair. Chegam a estar aqui 500 animais. Neste dia havia cerca de 200. Parecem totalmente alheios às centenas de turistas que os observam todos os dias.
Estes 5 dias foram dedicados a outros pequenos prazeres: falar e ser entendida pelos locais, fazer a minha própria comida, respirar fundo sem ficar intoxicada pela poluição, perder-me na multidão anónima onde não sobresaio por ser ocidental, beber coca-colas cheias de gelo, olhar as montras modernas e as roupas da ultima moda dos transiuntes cheias de cor e com aspecto novo em folha, ver espectaculos gratuitos pela rua...
Uma das melhores coisas de voltar ao ocidente são os supermercados. A variedade de yogurtes, bolachas, pão, queijo! Azeite! Azeitonas! A apresentação dos productos frescos, frutas e saladas. Sou feliz a fazer sandwiches em pão integral com azeitonas verdes, queijo emmental e alface iceberg na cozinha da Pousada da Juventude. :)
Apenas uma coisa me chocou: o olhar sem esperança, a loucura e agressividade que senti dos muitos (muito mais do que alguma vez poderia imaginar que haveria) mendigos que vi. Dormem em cantos e bancos de jardim, andam bêbados pela rua, com roupas nogentas, carregam o cheiro de quem não toma banho à semanas senão meses, o espirito quebrado, a vida sem sentido. Não se enquadram na sociedade e na sua loucura viram-lhe as costas, sem se darem conta da sorte que têm de ter nascido no mundo ocidental. Nestes 7 meses na Ásia, em especial na India, vi pessoas que vivem nas condições mais humildes com um sorriso sempre radioso. Vi a pobreza mais completa, de onde não se escapa nunca e ainda assim, sorriam. Não posso, nem quero, fazer um discurso paternalista de como no ocidente temos todas as oportunidades e não as aproveitamos, e não as agradecemos, nem nos damos conta. Mas entristeceu-me verdadeiramente sentir a desesperança, o vazio, em que estes homens e mulheres abandonados pareciam viver.